Dysvagando



quarta-feira, julho 10, 2002


Sobre sexo, relacionamentos, ônibus, táxis e putas.

A idéia está pronta, os pensamentos presos, daqui a pouco chegarão, vieram de lotação.

(...) continuação do pensamento:

Sexo pode ser como andar de ônibus ou como andar de táxi. Cada quilômetro tem seu preço tabelo, e cada minuto preso dentro do táxi o mesmo preço. Ao final, pagou-se por tudo, sem levar nada apenas chega-se a um destino de maneira mais rápida. Não dá para sentir a cidade, nem que seja os engarrafamentos. Por vezes nem ao menos se conquista nova amizade de apenas uma viagem.

Num ônibus pode-se sempre passar desapercebido, não perceber ninguém. Ou talvez, perceber a cidade ver a gente que se locomove, com pressa, com medo, com destino certo ou que apenas passa, sem ver nem ser visto. Mas a cidade está nos ônibus e seus caminhos longos, com as constantes paradas, pessoas esperando no ponto. Não se pega o caminho mais curto, nem o mais rápido ou o atalho com menos trânsito. Mergulha-se a fundo nas principais vias, onde todos querem estar, ou das quais querem sair.

Tendo táxis e ônibus, existem também as prostitutas (mulheres da vida), e as moças (talvez mulheres pra vida). Os homens gastam dinheiro com ambas, de forma direta ou indireta com basicamente os mesmos fins. Um jantar, um presente especial, terminando a noite na cama de casa ou de um motel, roteiro básico. Uma entrada, um whisky, o quarto e o "cachê" da "massagista", outro modus operandi.

Sob condições normais, em ambas as situações o homem chegou ao gozo, de certa forma seu destino. Mas a interação, o controle e o preço em dinheiro da satisfação com a prostituta é comparável ao táxi. Entrar tem seu preço, e pelo tempo exato paga-se um quantia pré-estabelecida. Chega-se mais rápido, por um caminho livre e desempedido direto ao ponto. Talvez com uma breve conversa e o isolamento de um quarto com um único propósito e uma altíssima rotatividade de pessoas, nuas.

Através de mulheres que não vendem seu sexo, mas apenas oferecem sua companhia a quem for do seu agrado pode-se também chegar ao gozo. Paga o homem um preço pela companhia, como uma tarifa de ônibus. Pode ser frescão, um restaurante ou motel fino, ou algo mais simples. Mas a tarifa e o conforto quem escolhe é o passageiro pagante. Mulheres amadoras fazem sexo quando lhes convém e quando são convencidas por meios paralelos que não simplesmente o poder econômico do companheiro. Sendo assim, não é preciso pagar todas as vezes. Sendo uma concessão não é necessário pagar sempre que se quer chegar de um lugar ao outro.

Existe também a possibilidade de se locomover de carro, ou buscar prazer sozinho. Mas isso é outro tema. É sempre melhor optar pelo transporte coletivo, concessão do poder público a quem quer que se habilite. Existem os ônibus, os metrôs, as barcas, até mesmo vans, kombis e microônibus. Alguns mais cheios com mais gente circulando, com mais demanda e oferta. As mulheres também são assim, umas mais exclusivas, mas sempre transportando ou disposta a transportar alguém e outras que por uma tarifa se chega longe, traçando um caminho comum a muitos.

Naturalmente as prostitutas também podem ser rádio táxis, táxis de aeroporto, ter preços tabelados como na rodoviária. São universos paralelos do mundo capitalista onde oferta, demanda, custo-oportunidade, custo-benefício, todos os elementos das diversas teorias econômicas estão presentes.