Dysvagando |
terça-feira, janeiro 22, 2002
Primeiro o barulho forte, o contato brusco contra a mureta, um susto. correria, uma fumaça branca que circunda o Volkswagem Golf, o cheiro da borracha queimada no asfalto, e depois, a porta arrombada, dois air-bags murchos e um jovem desacordado dentro do carro. A arrogância dos que tem dinheiro e fazem questão de mostrá-lo, somada a doses demais de álcool e grandes goles de imperícia, um carro destruido e um grande reboliço na madrugada.
Sigo tonto, tremo, os sapatos molhados de óleo derramado causam-me medo, tenho pouco controle sobre os pedais que manuseio com os pés, troco de sapato, fico tranquilo, sigo meu caminho, ileso. As chapas de aço azul retorcido, uma roda solta do eixo dianteiro, a porta arrombada, o vidro ao lado do motorista quebrado e os air-bags, tudo me lembrou morte. O jovem desacordado, imóvel, presumidamente respirando, parecia morto. Vivo, mostrou-se bêbado, arrogante, confuso devido ao brusco encontro com a mureta que sofreu. Segui minha vida até penosamente conseguir dormir. O último pesadelo da noite acordou-me. Levei um tiro no peito, disparado a esmo, outros acertaram toda a casa e o último veio de encontro ao meu peito, senti-lo explodir, preencheu-me a escuridão do que pensei ser a morte mas aos poucos vi que estava vivo e tinha acabado de acordar. Rememorei o sonho e aturdito levantei-me e segui adiante, rumo ao fim do dia, já que ainda pulsava em mim a vida que sonhei ter bruscamente perdido. Até que a morte do meu corpo me separe, eu vou vivendo. Com conflitos, sem conflitos, mas respirando sempre. Até que tudo ao meu redor pare, ou talvez até que simplesmente não existe nada ao meu redor a não ser uma certa penumbra escura, uma imensidão que nem ao menos pode me comprimir o peito aflito.
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