Dysvagando |
quarta-feira, novembro 21, 2001
Momento humanístico, ou de bom humor, do dia....
Andando de ônibus, em direção a Ipanema, linha 583. Primeiro ao entrar no ônibus o susto com o aumento... São 10 centavos, ou 10% e o pior de tudo é que não se pode reclamar, contestar, é pagar e girar a roleta. Afinal de que adianta reclamar com a cobradora, afinal com certeza se o salário dela aumentar e passar a ser uma ninharia com 10% a mais ela com certeza irá gostar, mas como o dinheiro não vai para ela mesmo... Pouco diferença faz para ela individualmente. Mas o melhor momento da viagem foi com certeza protagonizado pelo motorista do ônibus. Existem aqueles tipos que seriam mais corretamente definidos como pilotos, esse não era o caso, ou não se mostrou o caso na viagem que fiz. O motorista do 583 fez o estilo mais educado e prestativo que já pude ver nas minhas andanças de ônibus pelo Rio. Uma mulher de seus 30 anos, grávida de uns 6 meses pediu informação de como chegar ao centro, com um senso de humor não-característico, o motorista perguntou se a mulher gostaria de ir ao Centro de macumba ou o Centro do Rio. Com certeza a falsa ignorância do motorista não teve muita graça, mas valeu o esforço e a partir da piada insossa comecei a dar maior atenção à situação. Nunca tive essa certeza antes, como tive hoje, mas com certeza existe um certo "orgulho de marca" dos motoristas e cobradores em relação à empresa que trabalham. Sempre que alguém pergunta se o 157 (Central-Gávea via Lagoa) passa por Copacabana (sempre aparecem esses perdidos o cobrador instrui o desavisado a pegar um 432 ou 433, linhas da mesma empresa. No 583 pude comprovar essa minha hipótese anterior. Afinal para minha surpresa o motorista "convidou" a grávida a subir dizendo que a levaria mais a frente para pegar o 154 (Ipanema-Central). Estávamos no meio do Leblon, ainda faltavam vários quarteirões para chegarmos em Ipanema. Fiquei intrigado pensando no porquê daquela carona não solicitada, mas ai caiu a ficha, a linha 154 é da mesma empresa que a 583. Então o motorista não estava fazendo nada mais do que demostrar claramente o seu orgulho (ou seja lá o que for) pela empresa na qual trabalha. Para completar a história, o motorista deu instruções completas de como chegar ao ponto final do 154 logo no fim (ou começo no caso) de Ipanema. Era a menos de um quarteirão da rua que cruzávamos e com certeza a grávida balzaquiana viajaria em um ônibus vazio, fato que o motorista fez questão de frisar. Pouco importa se ele estivesse com pressa ou querendo ir a algum ponto no centro onde o 154 não passase, o fato é que o motorista deu as indicações e lá foi ela, com um certo sorriso de satisfação segundo o que imagino ter constatado ao vê-la cruzando a rua. Na verdade o fato humanístico tem também o seu lado capitalismo selvagem, afinal o motorista fez (e parece fazer sempre) questão de defender os interesses da empresa onde trabalha, uma recomendação que com certeza não deve ser uma norma induzida pela empresa, algo que seria totalmente sem sentido e de difícil fiscalização. O importante foi a forma gratuitamente educada que o motorista tratou a passageira grávida. E tenho de admitir que se fosse uma mulher da mesma idade, bonita e esculturosamente formosa confesso que teria lá as minhas dúvidas em relação a gratuidade da educação do motorista. Mas convenhamos que não há maneira de não se reparar uma barriga de grávida e de não associa-lá imediatamente a um marido "causador" da barriga. E além disso, a passageira não tinha nenhum atrativo especial ou destaque físico além da gravidez.
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