Dysvagando |
sexta-feira, novembro 09, 2001
Continuando a explorar o jornal, Veríssimo também toca em uma questão que passou pela minha cabeça hoje. E que está relacionada aos passos descendentes do filho pródigo mas especificamente à Lucas 15 ver. 13 e o amor nos prazeres materiais, dado a prazeres dos sentidos.
Vale a pena perguntar se nossa civilização masculina também não é o resultado da velha angústia que a mulher causa no homem desde o primeiro casal, apenas atenuada pelo tempo. Velhos tabus associando sexualidade feminina com impureza persistem em sociedades modernas e outras religiões, só mais bem disfarçados. Os fundamentalistas levam até a irracionalidade crenças e medos que a gente racionaliza para poder viver com eles. Assim o tratamento que o Talibã dá às mulheres é um exemplo extremo não da tiranização da mulher islâmica pelo homem islâmico mas da tiranização da mulher pelo homem, ponto. Mulher só pode votar, no Ocidente, há relativamente pouco tempo. Só agora começam a ser purgados da Constituição brasileira artigos que avassalavam a mulher ao homem e leis que quase lhe impunham recato e domesticidade. O que estaria havendo hoje seria menos um choque de civilizações do que um desencontro de eras: a civilização muçulmana é a civilização judaico-cristã, ontem. Ou — já que ainda não se sabe bem como isso tudo vai acabar — amanhã. A "honra" masculina ainda está centrada na sexualidade da mulher, mas aos poucos isso parece estar mudando entre nós e o que era mais negativo no comportamento masculino (a promiscuidade) parece que está sendo adotado também pelas mulheres e como disse uma vez um conhecido, o mundo não é uma maratona sexual. E pergunto, o que há de especial em 10 pessoas que uma só não tenha, de que vale a superficialidade de inúmeras pessoas quando não se conhece na verdade nenhuma delas?
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